Tuim faz história |
TUIM resgata a tradição do fabrico da poita com arco de aroeira e haste de pitangueira
Em 2001, aos 86 anos de idade, cinco filhos, 11 netos e seis bisnetos, Tuim, (Felinto Carvalho Filho) resgatou uma tradição buziana que quase se perde por falta de interesse em se resguardar a memória dos costumes de um povo, uma terra. Com a ajuda do genro Cizinho, fabricou uma poita ("corpo pesado que se usa como âncora") sob encomenda do historiador Elísio Gomes, idealizador e fundador do Museu Marítimo de Búzios.
A poita foi feita com um galho de aroeira envergado, dois galhos de pitangueira servindo de hastes e uma pedra de 12,7 kg encontrada no mar perto do cais, tudo amarrado com uma corda de sisal. Diz a tradição buziana que essas poitas que serviam como âncoras, foram trazidas de Portugal pelo poveiros, os pescadores da cidade de Povoa de Varzim localizada ao Norte daquele país (havia poitas de até 30 quilos).Ainda em 2001, Tuim foi operado para implantação de um marca-passo no coração debilitado, mas ele não resistiu mais do que um ano, morrendo 15 dias após completar 87 anos em 2002. Tuim, nascido a 4 de abril de 1915, filho de Felinto Jorge e Bernardina Augusta de São Luiz, estudou até o quarto ano primário, quando começou sua vida de pescador, embarcando ainda muito jovem no Estrela Azul, Glória do Outeiro e no Cruzeiro, barcos onde muitos buzianos fizeram vida.
Apesar da memória um pouco confusa e com a ajuda das filhas Odete e Ana, Tuim contava algumas histórias de sua vida como pescador, sob o olhar atento da mulher Adélia, de 85 anos, que também enfrentou graves problemas de saúde e morreu um pouco antes dele. Entre essas histórias, a do "barco que foi contra o vento forte de um temporal, quebrou o mastro, perdeu o pano (vela) e emborcou. Todos passaram horas agarradas ao casco e ele, Tuim, só pedia a misericórdia de Deus e o envio da salvação". Quando amanheceu, um pesqueiro argentino encostou e resgatou os pescadores.
- Até hoje agradeço aquela misericórdia divina - lembrava Tuim contrito.