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Feijão é figurinha fácil na percussão nos bares do Rio desde a Bossa Nova
Roberto Santos Carvalho é percussionista dos bons e do tempo do Beco das Garrafas, em Copacabana (Rio de Janeiro), no Rio de Janeiro, onde nos anos 60 se reuniam em bares como Bottle's e Manhattan's, figuras como Tom Jobim, João Gilberto, Luizinho Eça, Ellis Regina, Dolores Duran, enfim, a nata da música popular brasileira.
Era no meio desse pessoal que Roberto Santos Carvalho dava suas canjas num bongô, tantã, pandeiro ou triângulo, tornando-se figurinha fácil nas festas da txurma da Zona Sul carioca freqüentadas por Carlos Imperial, Jorge Bem, Wilson Simonal e pelos irmãos Paulo e Marcos Vale, este às vezes com a mulher Ana Maria, hoje também figurinha folclórica no calçadão de Ipanema de onde, com seu manjado biquíni branco, puxa os aplausos ao pôr-do-sol mais bonito da cidade.
Nascido em Petrópolis, há 56 anos, com pai funcionário do Banco do Brasil, foi morar em Ipanema aos sete anos de idade, bairro onde cresceu e curtiu uma juventude na txurma da rua Gomes Carneiro, ali perto do Clube Tatuí, do ponto final do ônibus 12 (Camões) e do mar onde, com uma prancha de madeirit , pegava jacarés nas ondas do Arpoador.
Foi nessa época de colégio "Orlando Roças", logo ali na vizinha rua Teixeira de Melo (Praça Gal. Osório), que Roberto perdeu para sempre sua identidade como Roberto, quando "uma namoradinha chamada Tânia Kit falou em frente aos colegas a frase mágica e definitiva: você parece um feijão".
A partir desse dia Roberto virou Feijão, apelido que o batizou nos bancos escolares do "Orlando Roças", do Colégio Pedro II (Marechal Floriano) e até como percussionista. Ele só voltou a ser Roberto durante os 10 anos em que ficou casado nos anos 70 com a argentina Lídia e morou em Campana, a 70 km de Buenos Aires, onde o casal vivia de uma butique de roupas esporte. Com ela, Feijão teve os filhos Jaqueline, 37 anos (médica nos Estados Unidos) e Roberto, 35 anos (DJ de uma rádio portenha).
Separado de Lídia, voltou para o Rio de Janeiro, reassumiu o apelido de Feijão e tocou sua vida pra frente tocando seu tantã ou bongô nas festas cariocas até que, numa de suas farras musicais descobriu Búzios onde passou a morar a partir dos anos 80.
Em Búzios, longe do habitat ipanemense, Feijão reforçou sua figura folclórica e enigmática, ao tornar-se personagem onipresente nas apresentações das bandas de música de bares antológicos e saudosos como Marruelle (da incrível Michelle), La Nuance (do François e seu indescritível filho Gaël), Cillico's e do Billy's (do intrépido e saudoso roqueiro Billy).
São dessa época histórias folclóricas a seu respeito, inclusive a "cascata" de que era etíope e chegara ao Brasil como clandestino de um navio de carga. Feijão foi, numa época, "modelo" do fotógrafo Marcelo Lartigue (jornal O Peru Molhado) e sua foto faz parte de um painel na parede do BAR NASCIMENTO, no Centro da cidade, juntamente com outras figuras como RAMON AVELLANEDA, GUGU e RENATA DECHAMPS.
Se você deseja conhecer o Feijão, é fácil encontrá-lo pelas noites buzianas. Basta ir ao encontro das diversas bandas que tocam nos bares mais badalados da cidade (La Coloniale, Fashion, Gulf Stream) que você verá uma figura miúda e circunspeta na percussão tocando discretamente no fundo da banda.
E ao vê-lo você dirá como a namoradinha dele de colégio: olha lá o Feijão...